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Tira esse sotaque aí!

  • Foto do escritor: Bibiane Ferreira
    Bibiane Ferreira
  • 9 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 6 de fev.


Atualmente muito tem se falado sobre o preconceito físico nas artes cênicas, e da forma como atores e atrizes que não seguem um padrão de beleza bem restrito ficam sempre com os mesmos papéis, ou papel nenhum. E ainda bem que estamos falando sobre isso! Antes tarde do que nunca. Mas ninguém fala ainda do preconceito linguístico que acontece nesse mesmo meio.

Um dia desses, estava rolando o feed do Instagram e me deparei com uma dita professora de atuação enfatizando o quanto era inadmissível um ator manter seu sotaque, e que deveria “limpar” sua forma genuína de falar. E tudo que eu conseguia notar era o quanto ela forçava aquela entonação bem paulista, que chegava a deixar sua voz enjoada.

Não existe atuação “sem sotaque”.  No máximo, o ator vai ter que tentar se adaptar ao sotaque da personagem, o que é lógico, já que todos vão notar a inverossimilhança de um nordestino falando como um mineiro ou um carioca com sotaque gaúcho. Mas agora, exigir que o ator se obrigue a imitar o jeito Rio-São Paulo, e incutir na cabeça dele que essa é a maneira “natural”, ou “correta” de falar, já beira o absurdo, e só serve para inflar o ego dos produtores e diretores de elenco dessa localidade. Por que temos que assumir que todo personagem é do mesmo lugar? Por que os personagens precisam admitir o estereótipo de uma determinada regionalidade ou um padrão sem personalidade linguística, se até mesmo pessoas dentro de um único estado falam de formas distintas?

A perda de nossas origens não deveria ser incentivada, seja para atuarmos no exterior ou aqui dentro do país. Nada disso é garantia nenhuma de boa atuação e pode até mesmo restringir a liberdade de expressão do ator, que ficará preocupado em engessar sua fala para agradar o mercado, que não lhe dá justificativa plausível para essa exigência totalmente superficial.

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