Tutorial de como inquietar o leitor: fantástico e ostranenie

Um bom escritor, especialmente um bom contista, expõe as narrativas pouco a pouco, compondo-as de sensações que fazem com que o leitor se sinta no texto e consiga experimentar um pouco do contexto em que as personagens estão inseridas. A forma de apresentar a história deve ser recheada de suposições e sugestões implícitas, surpreendendo o leitor com a não-obviedade.

Além desses recursos narrativos para manter o suspense, o autor ainda tem diversas maneiras de inquietar seu leitor, conheça duas delas:

O fantástico, para Todorov, é uma linha divisória entre o estranho e o maravilhoso, o real e o imaginário, entre a incredulidade total e a fé absoluta. Todorov também aponta que a maneira de ler é fundamental para a identificação do fantástico, pois não deve ser poética, tampouco, alegórica.

Em síntese, pode-se dizer que o fantástico caracteriza-se pela vacilação do leitor, tal qual da personagem, para com os acontecimentos relatados. A visão ambígua entre realidade e imaginação é o que concede forma ao fantástico, pois a contradição entre esses dois mundos causa uma ruptura entre o cotidiano conhecido, ante o inexplicável

Os acontecimentos, juntamente com o ambiente cuidadosamente detalhado, devem ser inseridos de maneira gradativa na narrativa, cheia de metáforas, figuratividade e tensão, além de ser situada no mundo cotidiano. O texto fantástico deve iludir, desorientar, prender e envolver o leitor, causando uma hesitação entre uma explicação real ou sobrenatural dos fatos relatados, em primeira pessoa, por um narrador mediano e até meio esquisito.

Ostranenie é uma palavra russa que não tem tradução exata, mas que significa desfamiliarização e estranhamento. É a técnica artística que apresenta coisas comuns de uma maneira diferente, a fim de aprimorar a percepção do familiar e transformar as ideias pré-concebidas sobre o mundo e sobre as próprias formas de arte. Ostranenie é essa forma singular de ver e apreender o mundo e aquilo que o constitui, mas também representa a inquietação perante o estranho-familiar de Freud.

Este termo representa o efeito criado pela obra de arte literária para nos distanciar em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a própria arte, o que nos permite entrar numa dimensão nova, visível apenas pelo olhar estético ou artístico.