Abas em aberto
- Bibiane Ferreira
- 5 de set. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de fev.

Algumas coisas inacabadas e tantas outras há pouco iniciadas. Frutos de curiosidade, obrigação ou um simples tédio. Uma vontade incessante de fazer algo que não se sabe o que é. Divisão de ideias e raciocínio cruzado, embriagado, bagunçado. Histórias recém-descobertas, diversões perigosas, redes de mentiras e impacientes responsabilidades. Tudo se confunde e quase se mistura.
Na ficção, na realidade ou na quase verdade, nada é um só. O apelo às multifaces é ensurdecedor, provoca e sempre cedemos. Sobrecarregados de abas (físicas e mentais) em constante atualização, nos perdemos no desconhecido que nós mesmos criamos.
Os sons abafados e sufocados são substituídos por músicas de fora, dentro só há o contínuo silêncio maquinal. A luz ofuscante das novas informações cansa os olhos, mas não a alma. Passatempos comuns, outrora impensáveis, logo serão obsoletos e repetidos: a inovação ficou restrita ao lápis e papel. Porém não se busca inovar, se busca saciar. Saciar a vontade do mais, sempre mais. Mais pessoas ausentes, mais conexões indiferentes e mais trabalho e mais esforço, mas de forma tão prática e tão fácil. Janelas abertas para o mundo, onde se fascina ao ver mais do mesmo.
As facilidades tornam-se difíceis. É difícil conciliar, é difícil controlar, é difícil descansar. O impulso da modernidade e a carência da companhia oprimem a velha vida pacata e sossegada. Os impossíveis tornam-se o comum com a chegada da possibilidade de assumir mais tarefas, para alcançar novos objetivos gananciosos. Poucas abas da vida são saudáveis. Poucas abas virtuais são realmente acessíveis.
Os registros são refeitos com a esperança de que se possa mudar o passado. As atividades são revisadas com a esperança de que se entenda as escolhas feitas. Nenhum vestígio de erro é deixado para trás, com a esperança de que a consciência seja consolada. Já não se admite fraquezas.
Fecho a primeira. Fecho a segunda. Fecho todas. Não resta nada a ser visto, nada a ser esquecido, nada a ser apagado. Nenhum passado a ser corrigido. Não há nada a ser salvo. Nunca houve.
Não há palavras para descrever o que estou sentindo agora, parece que arrancaram essas palavras de mim e as colocaram nesse magnífico texto, eu estou em choque, estou feliz, estou confuso, estou com uma série de sensações e sentimentos, posso tentar dizer tudo, mas, ao mesmo tempo não conseguirei dizer o mesmo que esta magnânima obra-prima. Talvez, seja isso, seja o nada, a não salvação enquanto que, procuro o meu coração.