A casa dos pesadelos - resumo e análise

O livro A casa dos pesadelos é um livro de suspense e horror contemporâneo e brasileiro, escrito por Marcos DeBrito, nascido em Santa Catarina. Entre outros títulos do autor estão “O escravo de Capela” e “À sombra da lua”. Como diretor, entre seus títulos de destaque estão “Condado Macabro”, “Apóstolos” e “Histórias Estranhas”. Confira a sinopse retirada de Google Books:

“Dez anos depois de estar cara a cara com aquela assombração, Tiago finalmente concorda em voltar à mesma casa para visitar sua avó. Agora adolescente, ele pretende provar para si mesmo que a terrível imagem que o aterrorizara nas madrugadas por tanto tempo, não passava de uma criação tenebrosa da infância. Mas, ao chegar no casarão, o jovem se depara com o misterioso quarto de seu falecido avô, agora mantido fechado, e tratado como espaço proibido. As restrições com relação ao aposento, as sensações e barulhos no meio da noite logo alimentam nele a suspeita de que algo terrível habita o local. Tomado por uma estranha coragem e desejo de ver-se finalmente livre do medo, tudo que o rapaz deseja é descobrir o que há por trás daquela porta. Então, o pesadelo toma novo impulso quando a figura sombria da infância mostra-se real novamente... mas, desta vez, ela quer atacar o seu irmão mais novo. Determinado a impedir que o caçula passe por terror semelhante, Tiago, mesmo apavorado, decide enfrentar a criatura.”

A história se passa no estado São Paulo e começa com Tiago, a mãe e o irmão mais novo, Bruno, retornando para a casa da avó, dez anos após os acontecimentos que deixaram Tiago traumatizado: a visita noturna de um monstro com dentes das mãos, perna de pau e um enorme cabelo emaranhado.

Desde o princípio, o autor nos mostra como os episódios misteriosos da infância deixaram marcas na vida do menino que, mesmo após anos de terapia, não consegue superar o medo e a desconfiança para com aquele lugar.

O livro é muito bem escrito e ilustrado, com desenhos intercalando os capítulos e com páginas em tons escuros, que ajudam a criar a atmosfera inesperada e sinistra do livro.

As personagens de A casa dos pesadelos são extremamente bem construídas: um adolescente arredio e fechado em seus próprios pensamentos, com dificuldades para socializar e estabelecer laços. Uma mãe se esforçando para se reaproximar da própria mãe, ao mesmo tempo em que tenta se reaproximar do filho mais velho e criar o filho mais novo. E uma criança pequena que, como caçula, admira o irmão mais velho. Porém, a personagem mais ambígua e não confiável é, certamente, a avó. A idosa tenta ser o mais doce possível, brincando com Bruno, cozinhando, fazendo bolos e sendo gentil... Todavia impõe restrições bem explícitas sobre cômodos da casa, o que atiça a curiosidade de Tiago e, quando este descumpre a autoridade da avó, esta se torna agressiva e histérica, ameaçando-o e intimidando-o.

Por mais que a história seja narrada em terceira pessoa, somos levados a nos aproximarmos das desconfianças de Tiago, vendo a avó como um ser misterioso e de duas faces. Entretanto, em certos momentos, quando somos expostos às relações da idosa com os outros membros da família, questionamo-nos sobre a veracidade do ponto de vista de Tiago: qual a divisão da tênue linha entre um adolescente paranoico e alguém que consegue perceber o que ninguém mais percebe?

O suspense da trama se intensifica quando a criatura dos pesadelos de Tiago reaparece, saindo de dentro do quarto proibido do avô, e o garoto tem certeza de que não está alucinando ou sonhando. Deparamo-nos com algo palpável e real, mas ainda não sabemos o que é, apenas de onde vem. As suspeitas acima de a avó estar escondendo uma criatura oculta no quarto são comprovadas. O monstro escondido que só aparece à noite, observa Tiago da porta do quarto dele e segue para o quarto de Bruno que começa a ter os mesmos pesadelos da infância de Tiago. A mãe não acredita nos filhos e atribui as alegações do caçula à má influência do irmão.

O autor consegue muito bem criar o clima de tensão, colocando o leitor no lugar de Tiago, de modo que abandonamos a ideia de duvidar de que existe algo sobrenatural na casa. O livro nos leva, junto com Tiago, a supor três opções possíveis: há alguém morando naquele quarto, há um portal para outra dimensão atrás daquela porta, ou o fantasma do avô está assombrando a casa.

Em determinado momento Tiago conhece uma vizinha da mesma idade, bonita e tão problemática quanto ele. Os dois ficam amigos e Tiago compartilha a história com a garota, que acredita nele. Então, ao ficar sozinho na casa quando os demais membros da família vão às compras, Tiago convida a garota para investigar o quarto proibido junto com ele. É neste momento que se estabelece o clímax da história.

(Spoilers a partir daqui:)

No quarto do avô há uma caixa de papelão em cima da cama com várias fotos de crianças nuas. Nenhum portal ou morador misterioso. A amiga de Tiago, ao ver fotos de pornografia infantil, parte para cima do rapaz, assediando-o e, ao tentar fazer sexo oral no rapaz, este se lembra imediatamente do monstro da infância e afasta a garota com violência. Neste momento fica claro que o comportamento da menina, abuso de álcool, cigarro e sexo, eram originados do abuso sexual e físico por parte de seu próprio pai, cometidos desde a infância da menina.

Quando a garota vai embora, a família de Tiago chega e flagra o garoto no quarto do avô, rodeado por todas aquelas fotos recriminatórias. A partir de então, começamos a entender o receio da avó em relação a aquele quarto; ela explica que apenas queria preservar em segredo a perversidade do marido morto, e conservar a imagem de bom pai e esposo, não revelando ao mundo sua verdadeira face perturbadora.

Só que, na mesma noite, o monstro retorna e Tiago cria coragem para segui-lo até o quarto do irmão e flagra a avó abusando sexualmente do menino. A avó segurando a dentadura, com o crespo cabelo solto e com a bengala do lado – as mesmas características do monstro.

O livro termina com o garoto segundos antes de matar a própria avó, desesperado por salvar o irmão e se vingar. O autor joga, em pouquíssimas linhas, no colo do leitor o segredo do livro de uma maneira totalmente surpreendente e súbita. As poucas páginas, que possuem um ritmo fluido e são lidas rapidamente, tornam-se difíceis de digerir, em um choque que nos faz repensar todos os acontecimentos do livro, que escancaravam a verdade sem que sequer suspeitássemos.

A crítica é muito bem construída em relação ao abuso sexual e infantil, por parte de figuras que deveriam ser confiáveis e familiares, e os traumas que causam na vida das crianças, e como isso se perpetua na vida adulta. Também retrata com maestria o empenho que pedófilos fazem, sem medir esforços, para ocultar sua identidade monstruosa do mundo. O livro nos prepara para a pior das criaturas sobrenaturais quando, na verdade, o monstro era real e estava ali o tempo todo, criando uma repulsa e enojamento de tal forma que preferiríamos mil vezes uma entidade paranormal.