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Perspectiva

  • Foto do escritor: Bibiane Ferreira
    Bibiane Ferreira
  • 9 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de fev. de 2022

Perspectiva, da editora Chiado Books, é o livro de estreia da autora catarinense e graduada em Escrita Criativa, Isadora Rinnert.


Eis a sinopse do livro:




Quebra-cabeças.

São peças diversas, misturadas, que, unidas, formam uma imagem.

Nem sempre é possível entender qual imagem é sem terminar completamente de montá-la.

Este livro é um quebra-cabeças.

Peças soltadas ao ar, que você precisa unir para entender do que se trata.

Unir as peças da vida de Aurora, pouco a pouco, para descobrir o que aconteceu com ela - seus pensamentos podem correr pelo caminho mais sombrio ou iluminado da vida.

Boa sorte.






A autora tem um trabalho cuidadoso, durante todo o livro, na construção do nome de sua protagonista, Aurora, e como o nome se encaixa perfeitamente com ela – desde seu nascimento (fruto de uma gravidez indesejada) ao raiar do primeiro sol, até seu jeito colorido e extravagante de se vestir (o que, ironicamente, não é o suficiente para impedi-la de ser invisível à sociedade).

O título do livro também é certeiro, pois vamos descobrindo o desenrolar da história e seus acontecimentos somente a partir de pontos de vistas distintos acerca da protagonista.

Cada capítulo da narrativa é intercalado por alguns poucos parágrafos do diário de Aurora, que não dão andamento nenhum ao enredo, mas são essenciais para que possamos conhecer um pouco sobre os sentimentos e pensamentos da protagonista e não apenas suas ações.

Perspectiva é dividido em duas partes, antes e depois da morte de Aurora, retratando de uma forma sutil temas muito fortes como: maternidade solitária, luto, estupro, violência, prostituição e depressão.

“Talvez por isso que os pesadelos dela entram em seu quarto de noite, e a fazem chorar. E eu adoro.”

Rinnert encaixa muito bem todos os elementos apresentados em sua história, conectando personagens e fatos muito discretos, apresentados em poucas linhas ou palavras, em capítulos diferentes. O pai de Aurora, por exemplo, nem parece a mesma pessoa quando narrado por Anne (mãe de Aurora) no primeiro capítulo, e o bêbado intragável que conhecemos mais tarde. Porém, se prestamos atenção aos detalhes, conseguimos perceber seus traços da personalidade ríspida e agressiva ocultos sob olhar de amor e ilusão de Anne.

Outro ponto que vale ressaltar é a construção das personagens. Isadora se esforça para criar as nuances e identidades de cada personagem, seja criando um modo característico e único de ver o mundo; seja criando uma voz narrativa própria para cada um, ou até inventando manias muito únicas para criar pessoalidade mesmo em um relato sobre uma investigação policial.

Aqui vão alguns exemplos:


“A veia da testa dele está pulsando de um jeito assustador, e tento não olhar mais para o lado. Imagine só, se aquela coisa explodir. A turma obviamente dá algumas risadinhas, porque aquela veia de Francis é bizarra. Tem vida própria, mas ninguém tem coragem de dizer isso em voz alta – porque, sinceramente, e se aquilo ouve?”


“Lucca lembrou o motivo pelo qual entrou para a polícia, em primeiro lugar: minimizar o número de mortes, mas o que acabou fazendo era contar cada uma delas, até que enchesse os dedos das duas mãos, e não sobrasse mais lugar. Então começou a colecionar canecas com características das pessoas que se foram. O armário já havia ficado cheio, logo acrescentou outra prateleira em uma parede.”


A proposta do livro, de ser um quebra-cabeças, é bem explorada, pois não há um desfecho na história e, por isso, nunca chegamos a uma conclusão sobre o plot principal da história “quem matou Aurora?”, até porque, pelo número reduzido de páginas, não há peças suficientes para que possamos ver a imagem como um todo.

“Sabe, o ser humano tem o terrível destino de propagar informações que nem sempre pertencem a si mesmos. Geralmente, histórias são contadas pelos outros.”

Como uma boa fofoca, a leitura do livro é muito fluida (apesar de alguns erros de português, que poderiam ter sido evitados em uma revisão mais atenta), e suas quase noventa páginas passam voando pelos olhos que anseiam em saber cada vez mais sobre a vida e a morte de Aurora. Pessoalmente, fiquei com um gostinho de quero mais, e espero que outras perspectivas surjam em um próximo livro para que o quebra-cabeça possa ser completo.

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