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Valíria - uma continuação do final original de Game of Thrones

  • Foto do escritor: Bibiane Ferreira
    Bibiane Ferreira
  • 9 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

A pequena Daenerys olha, admirada, pela janela do palácio dos Targaryen. O vulcão explode em um espetáculo de chamas, devorando todas as pequenas criaturas que tentam fugir pelas ruas. Os grandes senhores sobem em seus dragões e lançam-se ao céu enegrecido. O sol desaparece, ofuscado por asas gigantescas que tumultuam-se nas alturas, fugindo de uma força maior que a pura brutalidade. Lanças de pedras voam de encontro ao peito de alguns dragões e seu sangue quase negro se derrama pela rua cheia de sangue humano, a queda. Outros são simplesmente engolidos pelo solo de lavas que dá forma ao novo chão assimétrico e instável que grandes homens jamais tornarão a pisar. A garotinha observa ao caos como quem observa uma obra de arte, a poesia da destruição é a mais bela de todas. Fogo e sangue.



Daenerys acorda com uma dor no abdômen, sem conseguir respirar direito; a única coisa que consegue ver é uma majestosa criatura de fogo à sua frente. As chamas sussurram presságios em seus ouvidos e criam imagens dentro de seu ardor inconsistente. Ela ouve os rumores e as lendas de Essos sobre o Senhor da Luz. Imagens são reveladas aos seus olhos: o trono de ferro destruído, um corvo negro de três olhos acima de tudo que ela construíra; Sansa Stark com uma coroa na cabeça e, por fim, o rosto Jon Snow sobre seu corpo covardemente esfaqueado.

O cheiro do hálito quente ao seu lado é familiar, Drogon a cheira, empurrando seu corpo enquanto ela se senta. Seus olhos demoram a se adaptar à densa neblina. Ela está nua, sem nenhum ferimento, e sente o cheiro de queimado vindo de seu próprio corpo.

Alguns vultos se movem nas sombras e ela se esforça para se levantar, apoiando-se na face rija e áspera do dragão. Ela olha em volta, o lugar é tomado por ruínas que, em uma primeira impressão, parecem desconhecidas, porém Daenerys sabe exatamente onde está.

Os vultos rápidos e animalescos se aproximam, ela vai para mais perto de seu dragão, mas ele não parece se importar com a possível ameaça. Os vultos tomam forma de homens cobertos de pedra, que fazem as pernas da mãe dos dragões bambearem de medo. As grotescas figuras se ajoelham perante ela em um gesto de respeito. Daenerys se lembra de Jorah e seus olhos se enchem de lágrimas, ela apoia as costas na perna de Drogon para não sucumbir à imensa tristeza. Um dos Homens de Pedra com escamagris em um estágio pouco menos avançado, ainda capaz de falar, dirige a ela as palavras em valiriano:

“R'hllor traz Azor Ahai para seus soldados”.

Daenerys sobe nas costas de Drogon e os dois lançam-se ao céu escuro, sobrevoando um exército de pedra ao seu alcance, esperando desesperados por alguém que possa salvá-los.

Uma forma negra desce do céu para o ar negro dos destroços de um lugar onde, outrora, Daenerys conhecera como casa. O corvo a encara com uma audácia surreal, com uma audácia de rei. Ela sabe muito bem que não é um corvo qualquer.

Daenerys tenta se concentrar, mas sua mente continua viajando pelas memórias. Ela se lembra de seus pesadelos com os majestosos dragões de Valíria sendo consumidos pelas Quatorze Chamas: caindo do céu, transformando-se em pedra no chão. Lembra-se de Viserys e Rhaegal com lanças atravessando o peito enquanto lutavam por ela. Daenerys se sente completamente destruída e infinitamente traída. Rostos familiares dançam em seus pensamentos, fazendo-a agarrar-se a quem já a fora fiel: Khal Drogo, Missandei, Olenna Tyrell, Daario...

Daario. Nem todos estão mortos. Ainda há esperança para a última Targaryen. Sim, a última.

Ela encara o corvo e com um sorriso de fúria nos lábios, diz uma única palavra.

“Dracays”.

A pequena criatura sucumbe nas chamas de Drogon, que continua queimando. Tudo. Todos. Fogo e sangue.

As rochas, pouco a pouco, derretem com o calor incessável. Grandes feras se movem abaixo do solo, acordando de um sono de anos, despertando com uma fúria digna dos deuses. De um único deus, àquele quem trouxe de volta a tormenta. Sete dragões emergem das trevas. Não são nem de longe todos os que caíram, mas ainda assim são o bastante. As criaturas rugem e batem as asas, cruzando as espessas nuvens escuras, querendo respirar o ar de uma nova era dos dragões. Os Homens de Pedra comemoram o espetáculo, admirando seu novo salvador.



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